Começa nesta quinta | ANA RITA: UMA MESTRA DAS PALAVRAS DÁ O TOM DA FEIRA DO LIVRO.

Por Cláudio Moreira – patrono da Feira do Livro de 2019

De 24 a 27 de outubro, o Shopping Gabrielense, na rua Maurício Cardoso, será um privilegiado local de encontro e acolhimento para os amantes da literatura. A Feira Municipal do Livro entra em sua 16ª edição. Enquanto outras feiras de cidades do interior escolhem como patronos figuras consagradas do circuito literário nacional justamente para atrair público, a Feira do Livro de São Gabriel segue mantendo viva a tradição iniciada em sua primeira edição no ano de 2007, de eleger como patronos somente escritores gabrielenses, aqui nascidos ou que construíram sua história na cidade. Desta vez, a patronagem da feira repousa nas mãos de uma maestrina, uma mestra das palavras e do seu poder para transformar vidas. Ana Rita Fagundes Léo, seja como a escritora sensível, a tribuna política singular ou a educadora extraordinária, fez da palavra o seu instrumento para tocar os corações e mudar histórias.
Licenciada em Letras pela extinta FESG (Fundação Educacional São Gabriel) e Mestre em Ensino de Línguas com ênfase em Linguagem e Docência pela Unipampa de Bagé, Ana Rita é membro da Academia dos Poetas de Portugal, oficineira de produção textual e escrita criativa e também empresária rural, junto com o esposo, Eduardo Petrarca Léo.
A experiente professora, que lecionou em escolas como o Instituto Estadual Menna Barreto e a Escola Estadual Doutor Pery da Cunha Gonçalves, abraçou o ensino de Língua Portuguesa e Literatura como uma missão, e são centenas as histórias de vidas tocadas por sua forma de ensinar e de despertar vocações para o interesse nos livros. Foi de uma destas atividades – uma oficina literária sobre Dom Quixote na escola Pery – que saiu a inspiração para sua primeira obra, lançada na Feira do Livro de 2011. “Quesada, Quixano, Quixote” mergulha no simbolismo da obra imortal de Miguel de Cervantes, e faz uma “desleitura” – com diria o crítico literário britânico Harold Bloom –, repaginando personagens e criando outras figuras não mencionadas na obra original, mas que bem mereciam estar nela.
Em “Quesada, Quixano, Quixote”, Ana Rita se aventura por um tipo de experiência literária chamada “geometrismo”, quando a disposição das letras de um poema faz parte de sua linguagem poética. Um destes exemplos é o texto “A Lança”, em que a arma de Dom Quixote se apresenta, e a disposição das palavras desenha uma lança na página do livro.
Toda essa maestria evoca um pouco o dinamismo da ativista política, que foi vereadora hábil no uso das palavras na tribuna e nos palanques.
Na sua obra de 2024, “Eu Conto, e Daí?”, Ana Rita realmente se supera e mostra o desenvolvimento de uma escritora madura, versátil e dinâmica, que se aventura tanto pela poesia quanto pelo texto em prosa, ando do conto para a novela literária com total desenvoltura. Em “uma cerimônia sem cerimônia”, nos diverte com as peripécias de infância, tentando escapar de fazer o ritual da Primeira Comunhão. Irrequieta desde sempre, não queria fazer algo sem que fosse uma escolha – lutando ainda criança pela autonomia de pensamento. O texto “Socorro, um Macaco no Velório” é de rir a valer, mas não convém dar “spoiler”. Leiam.
A obra poética, por sua vez, surpreende com textos que são sopros de ternura, encantamento e raciocínio profundo, como em “Nuvem Ciumenta”, ou na singela e solene proclamação que resume todo o seu fazer literário:
“Não quero ser gaveta de ressentimentos.
Quero, sim, ser asas de bons sentimentos”.
Com certeza, a obra de Ana Rita Léo dá asas aos melhores sentimentos e luz para a imaginação.

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