
Na última terça-feira (07/02), data que marca os 300 anos de nascimento e 267 anos da morte de Sepé Tiarajú, foram realizadas em São Gabriel atividades de mobilização da comissão pró-beatificação e canonização do líder indígena guarani, que conviveu com os jesuítas na redução de São Miguel Arcanjo e morreu defendendo seu povo e seu território. Os trabalhos foram conduzidos pelo padre Alex Kloppenburg, de Santana do Livramento, e pelo bispo Dom Frei Cleonir Dalbosco, responsável pela diocese de Bagé.
O local escolhido para a atividade é simbólico. Segundo historiadores, foi na Sanga da Bica que Sepé foi golpeado pela lança de um soldado espanhol e alvejado pelo tiro de um oficial português.
A partir de 1756, o personagem histórico a a ser venerado como santo popular, bem como adotado como padroeiro das causas indígenas e de movimentos sociais que lutam pelo o à terra.
A primeira atividade teve participação restrita aos envolvidos na comissão, onde foi exposto por Padre Alex e Dom Frei Cleonir um balanço dos trabalhos realizados até o momento e alinhadas expectativas para os próximos os. Foi ressaltado que no período de pandemia se fez necessário um recolhimento e a desaceleração das ações, mas que a partir de agora os trabalhos serão retomados com fluxo reforçado.
A segunda atividade foi pública, junto ao monumento instalado no espaço da Sanga da Bica, onde está a cruz missioneira elevada sob troncos e uma pequena imagem do indígena Sepé. Após a celebração alguns dos participantes saíram percorrer uma trilha ao longo da sanga.
SANTO
Padre Alex defendeu a beatificação e canonização. “Se o povo já canonizou, por que nós também não fazemos eco a esta voz?”
Para o religioso, é firme a certeza de que os principais elementos concretos que são exigidos pelo Vaticano para que o processo tenha andamento estão contemplados e os elementos simbólicos não deixam margem a outras interpretações que não pelo reconhecimento. “É verdade que não temos o corpo de Sepé Tiarajú, mas temos aqui, neste chão, o seu sangue derramado”, afirmou.
O fato de arem-se 267 anos do martírio e a lembrança seguir presente na memória, no imaginário e na fé do povo é um argumento decisivo para justificar o processo. “Trabalhar pela causa da canonização de Sepé não diz respeito apenas a se ter mais um santo no calendário da Igreja, mas sobretudo ter presente a sua causa, a causa da luta pela justiça, pela vida, pela terra, pelos direitos dos povos originários”, concluiu.
O PROCESSO
Dom Frei Cleonir relembrou o início do processo, quando seu antecessor, Dom Gílio, levou até o Vaticano as razões e as s de mais de uma centena de autoridades políticas e religiosas, bem como de intelectuais de diversas áreas, e recebeu o “Nihil Obstat” (nada obsta) da Igreja, ou seja, via livre e sem objeções para começar o processo de reconhecimento oficial da santidade do indígena guarani. E junto veio o esclarecimento: ele já poderia desde lá, ser aqui invocado como “Servo de Deus”, primeiro o no processo que leva à “beatificação” e depois à “canonização”.
“É importante nesse momento, nesse 7 de fevereiro, retomarmos nossas atividades recordando os 300 anos do nascimento e os 267 anos do seu martírio”, comentou Dom Cleonir, saudando o envolvimento da comunidade local, de entidades e lideranças. “Vamos fazer todo o trabalho na diocese para juntar a documentação necessária para depois enviar para a equipe da Causa dos Santos, no Vaticano, continuando essa missão e confiando nas graças e bençãos de Deus nesse processo, para que um dia tenhamos Sepé como nosso intercessor, como mártir de nossa igreja”, afirmou.